quinta-feira, 8 de julho de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

Não por Decisão ou Esforço do Homem


"Deus… nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos…" (2 Timóteo 1.9)

Cristo é aquele que salva, mas a Escritura ensina que nem toda pessoa é salva. Qual é a diferença entre aqueles que são salvos e aqueles que permanecem não salvos? Reformularemos a pergunta. A Bíblia ensina que somente aqueles que creem em Jesus Cristo, somente os cristãos, são salvos. Os não cristãos queimarão no inferno para sempre. Por que algumas pessoas se tornam cristãs, enquanto outras não? Qual é a diferença entre os homens, que alguns creem em Cristo, enquanto outros recusam crer nele?

Paulo diz que Deus nos salvou “não em virtude das nossas obras”, mas “por causa da sua própria determinação e graça”, e que essa graça foi dada “desde dos tempos eternos”. As referências a obras, ao propósito divino, à graça divina, e ao tempo, são altamente significativas. Paulo usa essas referências para indicar uma teologia definida sobre a questão, uma forma particular de pensamento. Principalmente, por essas expressões ele atribui tudo da salvação a fatores internos ao próprio Deus sem qualquer consideração de algo no homem. Estou enfatizando isso porque algumas vezes as pessoas pegam uma dessas referências e distorce-as para abrir espaço para teorias sobre a salvação que são alheias ou mesmo contrárias ao pensamento de Paulo. Contudo, quando deixamos de ignorar suas claras explanações, levando em conta o que o apóstolo diz, frequentemente dentro da mesma passagem, veremos que ele não deixa lugar para aberturas ou interpretações alternativas.

Em Romanos 9, ele oferece uma exposição comparativamente extensa sobre a doutrina da soberania de Deus na salvação. Os versículos 11-13 dizem: “Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má — a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama — foi dito a ela: ‘O mais velho servirá ao mais novo’. Como está escrito: ‘Amei Jacó, mas rejeitei Esaú’”. Observe as referências similares a obras, à propósito divino, e a tempo. Graça, e ideias relacionadas como misericórdia, aparecem logo após. Quando diz respeito a obras, Paulo nega que a salvação seja baseada em nossas obras. Aqui ela está combinada com as referências a tempo. Dessa forma, ele escreve que a questão foi determinada antes dos gêmeos nascerem e antes deles terem feito bem ou mal.

Eu mencionei aberturas acima, pois aqui é onde as pessoas tentam injetar suas teorias para evitar o claro ensino da Escritura. Eles dizem que é verdade que o destino dos gêmeos foi determinado antes deles nascerem e antes de terem feito algo, mas talvez essa determinação foi baseada em coisas que eles iriam fazer. Isto é, talvez Deus baseie sua decisão em seu conhecimento do futuro, do que os homens decidiriam e fariam.

Primeiro, mesmo que não haja nada na passagem para contradizer isso, nada é dito em suporte dessa teoria, de forma que ela não é nada mais que especulação sem fundamento. Segundo, a passagem inteira de fato contradiz isso. As obras dos gêmeos são contrastadas com algo que é definido e explícito, a saber, o propósito e chamado de Deus. Ele escreve: “… antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má… a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse”, e “… não por obras, mas por aquele que chama”. O contraste não é entre obras passadas e obras futuras, mas entre obras humanas e propósito divino. Se não pelo fato que os homens são tendentes a pensar na salvação como sendo baseada em suas próprias obras, a simples afirmativa que a salvação é baseada no propósito de Deus seria suficiente para excluir todas adições ou alternativas. Em outras palavras, negar que a salvação é baseada nas obras do homem é apenas uma aplicação da verdade que a salvação é baseada na decisão e graça soberanas de Deus.

Isso é confirmado por declarações explícitas que seguem imediatamente. O versículo 16 diz: “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus”. Aqui ele separa sua referência ao homem do tempo passado, e declara abertamente que a salvação não depende do desejo ou esforço do homem. Não é que a salvação seja independente do desejo ou esforço passado do homem, deixando lugar para a salvação residir no desejo ou esforço futuro do homem, mas sim que ela é independente de qualquer desejo ou esforço no homem. Ela é baseada em alguém ou algo totalmente diferente, a saber, em Deus e na sua misericórdia.

O calvinismo popular ou a teologia reformada não é poupado por essa passagem. Ou para declarar a questão a partir de outra perspectiva, ele também tenta encontrar aberturas na Escritura a fim de afirmar suas próprias teorias e preferências. Essa tradição teológica geralmente afirma a eleição incondicional, em que Deus escolhe salvar alguém não por causa de algo bom nessa pessoa ou algo bom que a pessoa fará, mas frequentemente nega a reprovação incondicional. Contudo, Paulo coloca as duas coisas em pé de igualdade. Ele diz, “… antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má” – não “fizessem qualquer coisa”, ou “fizessem qualquer coisa boa”, mas “fizessem qualquer coisa boa ou má”.

Novamente, as referências a tempo não deixam lugar para obras futuras, mas têm a intenção de negar totalmente o papel das obras, quer boas ou más. Então, tendo negado o papel das obras, quer boas ou más, Deus escolhe amar Jacó e odiar Esaú. Assim como Deus escolhe quem salvar sem consideração de boas obras, quer passadas ou futuras, Deus escolhe quem condenar sem consideração de pecado, ou obras más, quer passadas ou futuras. Estamos dizendo que Deus envia alguns homens para o inferno que são justos ou moralmente neutros? Sem dúvida não – aqueles a quem ele escolheu condenar, ele também faz com que sejam injustos. O infralapsarianismo e a reprovação condicional são uma rejeição direta do ensino apostólico.

E novamente, esse ponto é explicitamente declarado mais tarde. O versículo 18 diz: “Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e endurece a quem ele quer”. O versículo 21 usa uma imagem para estabelecer o mesmo ponto: “O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?”. Ele não usa barro “bom” para fazer vasos nobres e barro “mau” para fazer vasos comuns. Ele usa o mesmo barro para fazer algumas pessoas boas, e algumas pessoas más.

Romanos 9 é uma passagem mais completa, mas Paulo pretende apresentar a mesma doutrina em 2 Timóteo. Quando ele diz que Deus nos salvou “não por causa de algo que nós tenhamos feito” (2Tm 1.9, NIV), ele não deixa lugar para algo que nós faremos. Essa é a forma como ele fala quando pretende excluir todas as obras humanas, quer passadas ou futuras, e não somente isso, pois ele pretende excluir o papel do homem completamente. Essa é simplesmente sua forma de dizer que a salvação não é de forma alguma baseada sobre algo em nós. Ele não nega o papel das obras humanas na salvação apenas para atribuí-la a outra coisa no homem, ou a algo que o homem faça. Antes, ele atribui a salvação à “própria determinação e graça” de Deus. Uma pessoa é salva porque Deus a escolhe, e Deus a escolhe por razões que são internas ao próprio Deus.

De: Vincent Cheung
Fonte: Reflections on Second Timothy
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto, julho/2010
Por: Saulo Diniz Ferreira

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6 comentários:

Pr. Luiz Fernando disse...

Prezado irmão Saulo,
excelente texto do Cheung. Claro e inquestionável. O texto base foi muito bom. Parabéns pela postagem. São textos assim que ajudarão a igreja brasileira se encontrar.
Em Cristo

djsmith disse...

Cara, essa teologia é furada!

A interpretação deste texto não é confiável, uma vez que Paulo cita a "Antiga Aliança" onde Deus cria o mal, o vaso ruim e o bom...

A salvação depende sim do que vc faz: "Aceitá-lo". Mesmo sendo um vaso ruim.. aliás tudo que Deus faz é bom, e não há nele nenhuma sombra de variação ou mudança:

"Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação." (Tiago 1 : 17)
No trecho "Uma pessoa é salva porque Deus a escolhe, e Deus a escolhe por razões que são internas ao próprio Deus."
Deus já escoheu salvar todo mundo... Deus não escolhe alguns ...
Furada!

Saulo Diniz Ferreira disse...

Eu concordaria em dizer que Deus escolheu “Amar a todos” (Jo 3:16). Portanto, o que nos espera não é a escolha da parte de Deus de nos salva, mas sim de nos Julgar (por nossa escolha pelo pecado (Rm 1:24-32) no dia em que seremos entregues a Ele diante de seu trono de Equidade (Ap 20:11-15). Falar sobre; Deus é Deus de amor, Deus que realiza sonhos, Deus Pai, Deus de misericórdia e outras centenas de milhares ou infinitas de características agradáveis de Deus não pode esconder a realidade do terror que pode acompanha-lo diante do que o Homem decidiu para si.
Como saberemos se nosso nome está no livro da vida? A grande maioria dos crentes acham que seus nomes estão no livro da vida porque um dia oraram uma oração, e se perguntarmos pra maioria se eles são salvos muitos dirão: “Sim, porque eu estou olhando para Cristo e crescendo em santificação!” NÃO, toda sua esperança por eternidade descansa em “Eu fui sincero uma vez que orei com um evangelista”? Essa é a única evidencia para dizer que seus nomes estão no livro da vida?
A.T Robertson escreveu¹: “Nós somos salvos pela graça, mas caráter ao final, é o teste do fruto da Arvore”.
A salvação é a obra de Deus, é atribuída à graça e Deus diz em Jr 17:10 “Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações”.
Sendo assim, ainda fico com o texto meu grande irmão e amado pastor

Em Cristo

Saulo

¹Estudante de grego Nº1 da Southern Baptist convencion.

djsmith disse...

Eu digo que a Salvação é de graça realmente, só que alguns pontos citados não correspondem ao caráter de Deus. Deus não mata, ele não escolhe alguns(como está escrito acima) ele já salvou a todos, o problema é que nem todos são salvos por que não o confessaram.... Ele não influencia no livre arbítrio, portanto ele não endurece o coração de ninguém.

Saulo Diniz Ferreira disse...

Correçãozinha:

¹Estudante de grego Nº1 da Southern Baptist convention.

Unknown disse...

Salvação não é uma vacina q se toma através da aceitação,e se torna imune ao inferno pelo resto de nossas vidas.
O grande equivoco que vivemos na igreja comtemporanea é achar q a partir o momento em q aceitamos a Cristo....somos salvos...independentemente do q façamos.
Creio q realmente em Deus não há qualquer sombra de variação.....mas em nós há!
Por exemplo,hoje mesmo posso aceitar Jesus,mas amanhã cometer atos,que negam a minha fé.
Ou seja....nossa salvação precisa de uma manutenção....manutenção essa q é feita através da fé,santidade,vigilancia,oração...enfim.
O Caminho é único,e não adianta entramos por este caminho e no meio da estrada nos desviarmos e achar q involutariamente iremos encontrar o destino,sem o nosso próprio interesse e empenho...não é porque entramos na pista q implicitamente já estamos no fim dela...

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