terça-feira, 21 de dezembro de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

Os Cristãos devem celebrar o natal?


Eu compreendo aqueles que querem ser rigorosamente e distintamente Cristãos. Que querem ser libertos do mundo e qualquer raiz pagã que possa repousar sob nossa celebração do Natal, mas não me posiciono da mesma maneira nesta questão porque penso que chega um ponto onde as raízes já estão distantes de tal forma que o significado presente não carrega mais nenhuma conotação pagã. Fico mais preocupado com um novo paganismo que se sobreponha a feriados cristãos.

Eis um exemplo que eu uso: Todo idioma tem raízes em algum lugar. A maioria dos nossos dias da semana [em inglês] —se não todos— saíram de nomes pagãos também. Então deveríamos parar de usar a palavra “Sunday” (domingo) porque ela pode ter estado relacionada à adoração ao sol em um tempo distante? No inglês moderno, “Sunday” (domingo) não carrega aquela conotação, e é a própria natureza do idioma. De certa forma, os feriados são como a linguagem cronológica.

O Natal agora significa que marcamos, no meio cristão, o nascimento de Jesus Cristo. Nós achamos que o nascimento, a morte e a ressurreição de Cristo são os eventos mais importantes na história humana. Não marcá-los de alguma forma, através de uma celebração especial, me parece que seria insensatez.

Eu lembro de ter sido vizinho de um casal nos tempos de seminário que não celebrava os aniversários de seu filho. A ideia era, em parte, que todos os dias eram especiais para o menino. Mas se todos os dias são especiais, então provavelmente significa que não há dias especiais. Contudo, algumas coisas são tão boas e preciosas — como aniversários e até mesmo mortes — que são dignas de serem marcadas. Quão mais o nascimento e a morte de Jesus Cristo!

Realmente vale o risco, mesmo que a data de 25 de Dezembro tenha sido escolhida por causa de sua proximidade com algum tipo de festival pagão. Vamos apenas tomá-la, santificá-la e fazer o melhor com ela, porque Cristo é digno de ser celebrado em seu nascimento.

Não há motivo para escolher outra data. Não vai funcionar.

De John Piper. © Desiring God. http://desiringGod.org
Por Saulo Diniz Ferreira - Goiânia GO
Tradução: voltemosaoevangelho.com

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

Norma Normata: a norma que é regida


A palavra latina Credo significa simplesmente “creio”, e corresponde à primeira palavra do Credo Apostólico. Através da sua História a Igreja fez frente à necessidade de adotar e abraçar posições confessionais para expressar claramente a Fé Cristã e para distinguir a verdade do erro e das declarações falsas da fé. Tais credos distinguem-se das Escrituras pela compreensão destas serem a norma normans (“a norma que rege”), enquanto os credos são norma normata (“a norma que é regida”).

Historicamente os credos cristãos têm abrangido desde breves até extensas afirmações confessionais. O mais antigo credo cristão encontra-se na declaração do Novo Testamento “Jesus é Senhor”. O Novo Testamento faz desta declaração algo críptico pois indica que ninguém pode fazer esta afirmação a não ser pelo Espírito Santo. O que se entende por isso? Por um lado o Novo Testamento nos diz que as pessoas podem honrar a Deus com a boca mas seus corações estão longe d’Ele. Isto é, as pessoas podem recitar um credo e fazer declarações categóricas de fé sem, todavia, acreditar realmente no que dizem. Assim, por que o Novo Testamento estabelece que ninguém pode fazer esta afirmação a não ser pelo Espírito Santo? Talvez seja pelo que custava fazer tal declaração no contexto da Antiga Roma.

O juramento de lealdade exigido aos cidadãos romanos para demonstrarem sua ligação ao império em geral e ao imperador em particular consistia em dizer publicamente, “Kaisar Kurios,” que significa, “César é senhor”.

Na Igreja do século primeiro, os cristãos sujeitavam-se à obediência aos magistrados civis, inclusive às medidas opressoras do César, e mesmo assim, na hora de afirmar publicamente que César era o senhor, os cristãos não podiam fazê-lo com a consciência tranqüila. Como substituto dessa frase, os primeiros cristãos faziam a afirmação “Jesus é Senhor”.

Mas dizer isso provocava a ira do governo romano, e em muitos casos, custava-lhe ao cristão a sua própria vida. Portanto, as pessoas tendiam a não manifestar aberta e publicamente esta declaração a no ser que fossem movidos a isso pelo Espírito Santo. O simples credo “Jesus é Senhor”, ou afirmações mais extensas, tais como o Credo dos Apóstolos, dão uma idéia geral dos ensinamentos básicos essenciais. Os credos resumem o conteúdo do Novo Testamento.

Os credos também utilizaram esse resumo de conteúdo para excluir as heresias do século quarto. Na aconfissão do Credo Niceno, a Igreja afirmou categoricamente sua crença na divindade de Cristo e na doutrina da Trindade. Essas afirmações foram consideradas verdades essenciais da fé Cristã. Eram essenciais porque sem a inclusão dessas verdades, qualquer afirmação cristã seria considerada falsa.

Na época da Reforma, houve uma proliferação de credos, à medida que as comunidades protestantes achavam necessário, face às controvérsias reinantes na época, de fazerem afirmações definitivas sobre suas crenças e de como sua fé diferia da teologia da Igreja Católica Romana. O próprio Vaticano acrescentou suas próprias afirmações de fé no Concilio de Trento a meados do século dezesseis em resposta ao movimento protestante. Mas cada grupo Protestante, tais como os Luteranos, a Igreja Suíça Reformada e a Igreja Escocesa Reformada sentiram que era necessário esclarecer as verdades que eles estavam afirmando.

Isso se fez necessário, não somente pelos desacordos dentro dos diferentes grupos Reformados, mas também para esclarecer a posição protestante frente às freqüentes interpretações errôneas apresentadas pelos católico-romanos. A declaração confessional do século dezessete, conhecida como a Confissão de Fé de Westminster, é uma das afirmações de credo mais precisas e abrangentes que se produziram durante a Reforma. Constitui um modelo de precisão e ortodoxia bíblica. Todavia, devido à sua extensão e abrangência resulta difícil encontrar a dois defensores da Confissão de Fé de Westminster que estejam de acordo em todos e cada um dos seus pontos.
Por essa razão, as igrejas que utilizam esta ou outras confissões similares, geralmente limitam os seus requisitos de adesão a um reconhecimento do “sistema de doutrina nela contido”. Esses credos protestantes posteriores, não só pretendiam afirmar o que eles consideravam como questões essenciais do Cristianismo, mas esclarecer os detalhes de cada comunhão religiosa que utilizaria tais abrangentes confissões de fé.

Em nossos dias tem surgido uma forte aversão contra as confissões de fé de qualquer tipo ou em qualquer nível. Por outro lado, o relativismo tão dominante na cultura moderna é um empecilho para qualquer confissão de verdades absolutas. E não só isto, mas também temos observado uma reação negativa muito forte contra a natureza racional e proposicional da verdade. Afirmações confessionais são uma tentativa de mostrar um entendimento coerente e unificado do amplo alcance das Escrituras.

Nesse sentido, são breves declarações do que historicamente temos conhecido como “teologia sistemática”. A idéia da teologia sistemática pressupõe que todo o que Deus diz é coerente e sem contradição. Assim, embora estes credos não sejam estabelecidos por mera especulação racional, todavia, estão escritos de maneira a serem inteligíveis e compreendidos pela razão. Sem tais confissões, a anarquia teológica reinaria na Igreja e no mundo.

De R.C. Sproul
Por Saulo Diniz Ferreira – Goiânia GO

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)
quarta-feira, 20 de outubro de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

Plante e cuide da árvore, que logo virão os frutos


Os desafios têm um papel fundamental nas nossas vidas. Primeiramente, eles nos ensinam que o sucesso é sempre produto de muito esforço e, depois, que somos nós mesmos os que terão de lutar pelos nossos objetivos. A Bíblia é clara a esse respeito, quando afirma no versículo 12 do capítulo 11 do Evangelho de Mateus que “[d]esde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado à força, e os que se esforçam se apoderam dele”.

Com essa afirmação Jesus expressa uma lei espiritual: aquele que trabalha, gozará do resultado do seu suor; quem planta e cuida da árvore, certamente colherá os frutos. Mas é preciso que haja o plantio antes da colheita e, entre um e outro, o empenho em preservar as folhas, podar e modelar os galhos, manter as raízes firmes no solo. É verdade que Deus fará a parte dele. Mas sem esforço e dedicação nada vai acontecer.

A parte de Deus, a propósito, é fundamental durante esse processo. Mas, de fato, o seu desejo é o de que o homem interaja com ele. Deus entra com a nossa saúde, com a capacidade, os dons e a inteligência com que nos congratula, e a outra parte, a da “mão na massa”, é nossa.

Os benefícios também são nossos e podem passar de individuais a coletivos, dependendo da medida de empenho a que se proponha. Da ocasião em que Martin Luther King pronunciou o seu famoso discurso “Eu tenho um sonho” até o dia em que Barack Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos, passaram-se várias décadas, mas a semente plantada pelo primeiro líder e o empenho dos que vieram depois dele transformaram a mentalidade de uma nação.

Nada disso seria tão dinâmico não fosse pelo “segredo” que faz tudo funcionar como numa engrenagem, o relacionamento com o Altíssimo. É por meio da comunhão com o Senhor que somos direcionados ao caminho certo, que recebemos orientação sobre a maneira correta (e certamente a mais fácil) de lutar, de como conciliar o nosso tempo com o dele. Portanto, se Deus colocou um sonho no seu coração, vá fundo nisso, que Ele honrará o esforço das suas mãos.

Fique na paz,

Ap. Rina
Por Saulo Diniz Ferreira – Goiânia Go

Receba também o Fala Pastor diariamente em seu celular.
Envie a palavra "falapastor" para 49820 e receba palavras que irão te edificar.
Serviço disponível para operadora Tim, Claro, Vivo, Oi e Brasil telecom.
Custo da mensagem recebida: R$ 0,31 + impostos.
Duvidas envie gratuitamente a palavra "info + sua duvida" para 49820.

Igreja Evangélica Bola de Neve
Rua Clélia, 1517 - Lapa / São Paulo - SP
Cultos: Quinta as 20h, Domingo as 10h, 16h (tradução em Libras) e 19h, estamos na Rua Clélia e
Sábado as 20h continuamos na Rua Turiassu, 734 - Perdizes
Para saber os horários de cultos na sua cidade acesse o site: www.boladeneve.com ou se você mora em Goiânia visite www.boladenevegoiania.com.br

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)
quinta-feira, 30 de setembro de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

O Poder do Exemplo


Exemplo não é a coisa principal na vida - é a única coisa. Através dessa frase o famoso missionário médico e autor, Albert Schweitzer, expressou claramente a importância e o poder do exemplo. Quantos de nós lendo isso, temos sido influenciados pela vida poderosa de um pastor, presbítero ou outro cristão que passou por nossas vidas. Se eu mencionar "um pastor fiel", a imagem de quem surge na sua mente? Se eu mencionar "um cristão fiel", em quem você pensa?
A declaração de Schweitzer é um exagero, claro. Muitas outras coisas estão envolvidas em uma vida de fidelidade, mas elas próprias estão combinadas no exemplo deixado por alguém.

"Mentoração" e "formação" podem soar como conceitos novos, mas eles não são. Parece que, do modo genuíno como Deus nos criou, isso estava em Sua mente. Ele fez os homens à Sua imagem. Nós existimos para seguir Seu exemplo, e para imitar Seu caráter. Na encarnação de Cristo, Deus veio em carne de um modo que podíamos entender e nos relacionar com Ele e, como Pedro disse, "deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos," (1 Pedro 2:21).
Nós também temos participação nesse ministério de estabelecer e seguir exemplos. Deus criou os seres humanos para nascerem e amadurecerem na companhia de outros humanos, em família. Nós não nos geramos sozinhos e nem aparecemos instantaneamente como pessoas maduras. Deus planejou que pais amorosos fizessem parte do modo como os humanos cresceriam.

Esse também é o modo como Deus intentou fazer-se conhecido nesse mundo decaído. No Velho Testamento Deus chamou Abraão e seus descendentes para serem um povo santo, especial e distinto no mundo. Eles deveriam ser especiais para que o mundo tivesse uma imagem de uma sociedade que espelhasse o caráter de Deus - personificando Seus interesses e valores. Quando Deus disse ao seu povo em Levíticos 19 que eles deveriam "ser santos porque Eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo," Ele não estava falando meramente a um indivíduo, para Moisés ou Arão ou Josué. Ele estava certamente falando a eles, mas nós vemos em Lev. 19:1 que Deus especificamente instruiu Moisés a dizer isso a toda a congregação de Israel. As leis que Ele deu a eles tinha muito a ver com relacionamentos, equidade, justiça e interações sociais. Ele demonstra que conforme essas pessoas se preocupam umas com as outras - com o perdido e o necessitado, com o estrangeiro e o jovem - elas mostrariam alguma coisa do caráter de seu Criador justo e misericordioso.

A falha de Israel nesse ministério modelo para outros é uma das principais cobranças de Deus contra a nação no Velho Testamento. Assim, em Ezequiel 5, o papel de Israel torna-se o de instruir as nações através de exemplos negativos. O SENHOR diz a Israel, "Esta é Jerusalém; pu-la no meio das nações e terras que estão ao redor dela... Pôr-te-ei em desolação e por objeto de opróbrio entre as nações que estão ao redor de ti, à vista de todos os que passarem. Assim, serás objeto de opróbrio e ludíbrio, de escarmento e espanto às nações que estão ao redor de ti, quando eu executar em ti juízos com ira e indignação, em furiosos castigos. Eu, o SENHOR, falei," (5:5, 14-15). De novo e de novo em Ezequiel, Deus diz que Ele faz o que faz à nação de Israel para o bem de Seu próprio nome, isto é, para que a verdade sobre Ele seja conhecida ente os povos do mundo.

Este testemunho coletivo para Ele mesmo é o que Deus também intentou através da igreja no Novo Testamento. Em João 13, Jesus disse que o mundo conheceria que nós somos Seus discípulos pelo amor que temos um pelos outros, como Cristo. Paulo escreveu à igreja em Éfeso, "outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz," (Efésios 5:8).

Em nossas vidas como cristãos, individualmente, e num efeito multiplicado em nossas vidas juntas como igrejas, nós portamos a luz da esperança de Deus nesse mundo escuro e desesperador. Através de nossas vidas como cristãos nós estamos ensinando uns aos outros, e o mundo ao redor sobre Deus. Se nós amamos uns aos outros, nós mostramos alguma coisa de como é amar a Deus. E, por outro lado "aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê," (1 João 4:20). Em nossa santidade mostramos a santidade de Deus. Nós somos chamados para trazer às pessoas a esperança de que há um outro modo de vida além das vidas egoístas de frustração que nossa natureza caída e o mundo ao redor conspira para encorajar-nos a seguir.
Companheiros pastores e presbíteros, o que nossas igrejas estão ensinando ao mundo que nos observa sobre Deus? Estamos ensinando-os que Deus é limitado à nossa raça? Estamos ensinando-os que Ele tolera pecado e infidelidade, vidas egoístas de mesquinharias e contendas? Quão seriamente temos nós conduzido nosso povo em aceitar a grande tarefa e privilégio que temos de ser a demostração pública, a vitrine, a propaganda, a página web do caráter de Deus para Sua criação?

Que privilégio tremendo Ele nos deu, e quão pouco caso fazemos disso. Nós pensamos que se conseguirmos mais pessoas em nossa igreja, isso de alguma forma nega nossa responsabilidade com aqueles que já são nomeados nossos membros. Mas qual o testemunho que cada um destes está dando agora? Quantos dos seus maus testemunhos você tem que trabalhar para superar para que as pessoas consigam ver o bom testemunho que Deus está provendo através daqueles que são verdadeiramente convertidos, e estão mostrando isso.

Todo o exercício de disciplina da igreja não é finalmente sobre justificação e vingança. Esses são assuntos de Deus, não de pecadores perdoados como nós (Deuterenômio 32:35; Romanos 12:19)! Mas nós temos uma preocupação em apresentar um bom testemunho aos outros de como Deus é. Nós existimos para sermos exemplos em nossas vidas e conduta. Você notou que em suas epístolas pastorais, Paulo parece particularmente preocupado sobre a reputação que um presbítero teria com aqueles de fora da igreja? Embora deva existir um número de razões para isso, uma certamente deve ser o papel representativo do presbítero da igreja para o mundo. Isso, então, é também o que a igreja deve ser como um todo. É por isso que Paulo ficou tão enfurecido em 1 Coríntios 5. E você notou com quem exatamente Paulo está gritando? Ele não repreendeu o homem que cometeu o ato sexual pecaminoso; antes categoricamente repreendeu a igreja que tolerava tal pecado entre seus membros! Nós conhecemos a triste verdade que alguns do nosso número irão se mostrar perdidos no pecado, mesmo que tenham feito uma boa profissão no início. Nós acreditamos que ao menos alguns deles se arrependerão e voltarão. Mas nós nem mesmo esperamos que a igreja coletivamente omita-se de sua responsabilidade de bem representar a Deus defendendo a santidade e colocando-se contra o pecado. Foi esse assunto - muito mais que o pecado do povo idólatra de Israel no Velho Testamento - o foco da afiada repreensão de Paulo à igreja dos Coríntios.

Amigos, o que diria o apóstolo Paulo da sua igreja e da minha? Quanto não-comparecimento nós toleramos em nome do amor? Quantas relações de adultério ou divórcios não bíblicos nós permitimos passar descomentados em nossas igrejas, ainda que isso grite ao mundo, dizendo "nós não somos mais diferentes do que eles"? Quantas pessoas que trazem divisão nós permitimos que rasguem a igreja sobre pequeninas questões, ou quantas falsas doutrinas nós permitimos que sejam ensinadas?
Queridos irmãos, se você está lendo isso como um pastor, um presbítero, um líder, professor ou um companheiro membro de uma igreja, pense na grande responsabilidade que temos. Considere como nós podemos testemunhar a Deus melhor - ignorando pecados no nosso meio, ou trabalhando para restaurar gentilmente aqueles que foram pegos em pecado, como Paulo instrui em Gálatas 6:1? O que melhor reflete o Deus que adoramos? Alguma vez a misericórdia de Deus obscureceu Sua santidade em Sua palavra? E na Sua igreja? Qual a nossa mordomia nessa questão?

Dê atenção ao exemplo que você estabelece ao mundo ao seu redor. Deus tem um plano grandioso para Seu povo e Sua palavra; Ele nos chama para mostrar isso através de nossas palavras e de nossas vidas. Você está fazendo isso? Que Deus ajude cada um de nós a ser fiel nesse grandioso chamado.

De Mark Dever
Por Saulo Diniz Ferreira – Brasília DF

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)
segunda-feira, 13 de setembro de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

As Misericórdias de Hoje para os Problemas de Hoje


Uma parte da fé salvadora é a segurança de que amanhã teremos fé. Confiar em Cristo hoje inclui o crer que Ele lhe dará a confiança de amanhã, quando o amanhã chegar. Com freqüência, sentimos que nossa reserva de forças não será suficiente para mais um dia. E, de fato, não será. Os recursos de hoje são para hoje; e uma parte desses recursos é a confiança de que novos recursos nos serão dados amanhã.

O alicerce desta segurança é o maravilhoso ensino bíblico de que Deus determina para cada dia apenas a quantidade de problemas que este dia é capaz de suportar. Em nenhum dia, Deus permitirá que seus filhos sejam provados além do que a sua misericórdia para aquele dia suportará. Isso foi o que Paulo quis dizer em 1 Coríntios 10.13: “Nenhuma prova lhes tem sobrevindo, que não seja comum ao homem. Deus é fiel, e não permitirá que sejam provados além do que são capazes de agüentar, mas, com a prova, Ele também dará o meio de escape, para que possam suportá-la” (tradução do autor).

O antigo hino sueco “Dia a Dia” é baseado em Deuteronômio 33.25: “A tua força será como os teus dias” (ARC). O hino nos dá a mesma segurança:

Dia a dia e a cada momento que passa,

Acho forças para enfrentar minha provação;

Confiando na sábia outorga de meu Pai,

Não tenho motivo para temor ou inquietação.

A “sábia outorga de meu Pai” é equivalente à quantidade de problemas que podemos suportar a cada dia — e nenhum problema a mais:

Ele, cujo coração é imensuravelmente bom,

Com amor, dá a sua parte de prazer e dor,

E, a cada dia, o que julga o melhor dom

Mesclando com paz e descanso o intenso labor


Juntamente com a medida de dor para cada dia, Ele nos dá novas misericórdias. Este é o argumento de Lamentações 3.22-23: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade”.

As misericórdias de Deus são novas cada manhã, porque existem misericórdias suficientes para cada dia. É por isso que tendemos a entrar em desespero, quando pensamos que talvez possamos ou tenhamos de levar os fardos de amanhã com os recursos de hoje. Deus deseja que estejamos cientes de que não podemos. As misericórdias de hoje são para os problemas de hoje; as de amanhã, para os problemas de amanhã.

Às vezes, nos perguntamos se teremos misericórdia para permanecermos firmes em provas terríveis. Sim, teremos. Pedro disse: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pe 4.14). Quando a injúria nos sobrevém, o Espírito da glória se manifesta. Aconteceu com Estêvão, quando ele estava sendo apedrejado (At 7.55-60). Acontecerá com você. Quando o Espírito e a glória são necessários, eles surgem.

O maná no deserto foi dado uma vez por dia. Não havia armazenagem de maná. Essa é a maneira como temos de depender da misericórdia de Deus. Você não recebe hoje a força para levar os fardos de amanhã. Recebe misericórdias hoje para os problemas de hoje. Amanhã, as misericórdias serão renovadas. “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1.9). “Fiel é o que vos chama, e Ele também agirá!" (1 Ts 5.24 — tradução do autor.)

De John Piper
Por Saulo Diniz Ferreira - Goiânia GO

Extraído do livro: Uma Vida Voltada para Deus, de John Piper.

Copyright: © Editora FIEL

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

ELEIÇÃO Pt 2 - ( Charles H. Spurgeon)


Abuso da doutrina da graça que leva a uma vida religiosa pecaminosa, indolente e frouxa.

Se vocês tivessem oportunidade de ler as muitas epístolas que os antigos pais da Igreja escreveram, então descobririam que eles sempre se dirigiram ao povo de Deus chamando-os de “os eleitos”. De fato, o vocábulo comumente utilizado nas conversações diárias, entre muitos daqueles cristãos primitivos, para aludirem uns aos outros, era “eleito”. Com grande frequência empregavam o termo para se dirigirem uns aos outros, ficando assim demonstrado que eles acreditavam que todo o povo de Deus manifestamente se compõe de “eleitos” do Senhor.

No entanto, passemos a examinar os versículos bíblicos que provarão, de forma positiva, a veracidade dessa doutrina. Abram suas Bíblias no trecho de João 15:16, e ali vocês observarão que Jesus Cristo escolheu o Seu povo, pois Ele mesmo declara: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda”. E em seguida, no versículo 19 desse mesmo capítulo, assegura o Senhor: “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia”. Verifiquem também o que está escrito em João 17:8, 9: “... porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”. E abramos ainda as nossas Bíblias na passagem de Atos 13:48: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. Se certos indivíduos quiserem dissecar em pedacinhos miúdos essa passagem, poderão fazê-lo; mas o fato inegável é que ela diz “destinados para a vida eterna”, no original grego, tão claramente como é possível dizê-lo; e não nos importamos com todos os comentários em contrário que têm surgido. Vocês quase nem precisam ser relembrados a respeito do que ensina o capítulo 8 da epístola aos Romanos, porque confio que vocês estão perfeitamente familiarizados com aquele capítulo, e que, por esta altura dos acontecimentos, já o estão compreendendo perfeitamente bem. Lemos ali, nos versículos 29 e seguintes: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Que diremos, pois, á vista destas cousas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as cousas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? Deus quem os justifica”.

Por semelhante modo, é desnecessário repetir por inteiro o capítulo 9 da epístola aos Romanos. Enquanto esse capítulo continuar sendo uma parte integrante das Escrituras, ninguém será capaz de provar que o arminianismo está com a razão. Enquanto esse capítulo estiver ali, nem mesmo as mais violentas distorções do texto serão capazes de extirpar das Escrituras a doutrina da eleição. Não obstante, leiamos versículos como este: “E ainda não eram os gémeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço” (vv. 11 e 12). E em seguida lemos, no versículo 22 e seguintes: “Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão. .”

Mas poderíamos, igualmente, apelar para o trecho de Romanos 11:7, que determina: “Que diremos, pois? O que Israel busca isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos”. E no versículo 5 daquele mesmo capítulo, lemos: “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”. Não há que duvidar, porém, que vocês todos estão lembrados da passagem de 1 Coríntios 1:26-29, que estipula: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as cousas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as cousas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as cousas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus" uma vez mais, recordemo-nos de uma passagem como a de 1 Tessalonicenses 5:9: “... porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo”. E, finalmente, vocês poderão considerar o meu texto, o qual, conforme penso, deveria servir de prova suficiente da doutrina da eleição. Entretanto, se vocês continuam precisando de mais provas, poderão encontrá-las procurando-as com mais vagar, se porventura não têm conseguido até agora remover as suas dúvidas a respeito da doutrina.

Queridos amigos, a mim parece que esse avassalador acumulo de testemunho bíblico deveria deixar boquiabertos àqueles que ousam rir da doutrina da eleição. Que poderíamos dizer a respeito daqueles que tão frequentemente têm desprezado essa doutrina, e negado a sua origem divina, que têm escarnecido de sua justiça e têm ousado desafiar ao próprio Deus, intitulando-O de tirano todo-poderoso, ao ouvirem dizer que Ele escolheu certo número de seres humanos para a vida eterna? Ó rejeitador da verdade, podes realmente extirpar da Bíblia essa verdade? Podes brandir o canivete de Jeudi e arrancar essa verdade da Palavra de Deus? Preferirias ser semelhante àquela mulher, aos pés de Salomão, que estava disposta a ver a criancinha partida pelo meio, a fim de ficar com a sua metade? Porventura, não é clara a existência dessa doutrina aqui nas Escrituras? E não faz parte do teu dever te inclinares diante da verdade, aceitando humildemente o que por acaso ainda não pudeste entender dela? — e dando-lhe acolhida, embora não possas compreender todo o seu significado?

Não tentarei provar a justiça de Deus, por haver Ele escolhido a alguns para a salvação e ter deixado outros de lado. Não cabe a mim vindicar o meu Senhor. Ele falará por Si mesmo. E Ele efetivamente o faz, dizendo: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9:20, 21). Além disso, lemos: “Ai daquele que diz ao pai: Por que geras? e à mulher Por que dás à luz?” (Isaias 45:10). Eu sou o Senhor, teu Deus, eu crio a luz e crio as trevas. Sou o Senhor de todas as coisas. Quem és tu, que replicas a Deus? Estremece e beija o Seu cetro; prostra-te e submete-te diante de Sua vara; não impugnes a Sua justiça, e nem queiras julgar os Seus atos diante do teu próprio tribunal, Ó homem!

Não obstante, há alguns que objetam: — muito difícil aceitar que Deus tenha escolhido a alguns e tenha deixado a outros! Ora, é por esta altura de minha exposição que desejo fazer a vocês uma indagação: Há algum de vocês aqui que deseja ser santo, que deseja ser regenerado, que deseja abandonar o pecado e andar em santidade? E alguém poderia responder-me: “Sim, eu quero!” Pois muito bem, nesse caso, Deus escolheu a esse alguém. Mas eis que uma outra pessoa talvez replique: “Não, eu não quero ser santo, e nem quero desistir das minhas paixões e dos meus vícios!” Neste Último caso, retruco: Por que, então, você fica aí se queixando do fato de que Deus não o escolheu? Pois se você tivesse sido escolhido, não estaria apreciando o fato de ter sido eleito, de acordo com a sua própria confissão. Se Deus lhe tivesse escolhido para a santidade, ainda nesta manhã você teria acabado de afirmar que não se importaria nem um pouco com isso!

Porventura, você já reconheceu que prefere viver no alcoolismo, e não na sobriedade, que prefere viver na desonestidade, e não na honestidade? Você ama mais aos prazeres mundanos do que à piedade cristã. Assim sendo, por qual razão você fica murmurando diante do fato de que Deus não o escolheu para a piedade? Se porventura você ama a piedade, então é que Deus o escolheu para viver piedosamente. Em caso contrário, qual direito você tem para dizer que Deus lhe deveria ter dado aquilo que você não deseja? Suponhamos que eu tivesse aqui, em minha mão, alguma coisa a que você não desse valor, e eu dissesse que a daria a esta ou àquela pessoa. Nesse caso, você não teria qualquer direito de queixar-se do fato de que eu não a oferecera a você. Você não seria tão insensato a ponto de murmurar que aquela outra pessoa obteve aquilo que não lhe interessa nem um pouco. De conformidade com as suas próprias confissões, muitos de vocês não apreciam a piedade cristã, não querem ser donos de um coração renovado e nem de um espírito reto, não querem receber o perdão dos pecados e nem querem experimentar a santificação. E isso quer dizer, por sua vez, que vocês não gostariam de terem sido escolhidos para essas realidades espirituais. Assim, pois, do que vocês ainda estão se queixando? Vocês consideram todas essas coisas como se fossem apenas lixo. E por qual motivo haveriam de queixar-se de Deus, o qual outorgou essas mesmas coisas àqueles a quem Ele escolheu? Mas, se vocês acreditam que essas coisas são boas, e se chegam a desejá-las, então elas estão à disposição de vocês. Deus as dá liberalmente para todos aqueles que as desejam. Porém, antes de mais nada, Ele faz com que tais indivíduos realmente desejem essas bênçãos, porquanto, do contrário, jamais poderiam desejá-las. O grande fato é que se vocês chegarem a amar a essas realidades, então é porque Deus terá escolhido vocês para as receberem, e vocês poderão obtê-las. Mas, por outro lado, se vocês não desejam tais bênçãos, quem são vocês para descobrirem alguma falta em Deus, quando é a própria vontade obstinada de vocês que os impede de dar valor a essas coisas "eu" quando é o próprio "eu" de vocês que os leva a odiarem essas bênçãos?

Suponhamos que um homem qualquer, lá na rua, dissesse: “Que vergonha que não me tenha sido garantido um assento no auditório, para eu ouvir o que esse pregador tem para dizer. Não posso tolerar a doutrina dele; e, no entanto, é uma vergonha que eu não tenha nenhum assento reservado ali!” Algum de vocês esperaria ouvir um homem qualquer dizer coisas dessa natureza? Não, pois todos vocês replicariam prontamente: “Aquele homem não se importa com essa oportunidade”. Por qual motivo ele se sentiria perturbado porque outras pessoas possuem aquilo a que elas dão valor, mas que ele mesmo despreza? Você não aprecia a santidade; você não aprecia a retidão. E se Deus me escolheu para essas coisas, isso deixa você ofendido? Porém, alguém poderia comentar: “Ah! mas é que eu pensava que essa doutrina significa que Deus escolheu alguns para o céu, e outros para o inferno!” A verdade é que esse conceito exprime algo inteiramente diferente da doutrina do Evangelho. Pelo contrário, Deus escolheu indivíduos para a santidade e para a retidão, e, através disso, para o céu. Ninguém pode dizer que Deus simplesmente escolheu alguns para o céu, e outros para o inferno. Antes, Deus escolheu você para a santidade, se é que você ama a santidade. Se qualquer um de vocês, aqui presente, aprecia ter sido salvo por Jesus Cristo, então é que Jesus cristo escolheu esse alguém para a salvação. Se qualquer um de vocês, aqui presente, deseja obter a salvação, então é que esse alguém foi escolhido para receber a salvação, se é que a deseja sincera e intensamente. Por outra parte, se você não deseja ser salvo, então por qual razão, afinal de contas, você mostra-se tão insensato a ponto de murmurar do fato de que Deus outorgou a outras pessoas aquilo que você não gosta? Assim sendo, tenho procurado esclarecer alguma coisa a respeito da verdade da doutrina da eleição. Mas agora, permitam-me declarar, de maneira bem breve, que a eleição se reveste de uma natureza absoluta, ou, em outras palavras, que ela não depende daquilo que somos em nós mesmos. O texto sagrado assevera: “… Deus vos escolheu desde o principio para a salvação...". E, no entanto, nossos oponentes asseguram que Deus escolhe as pessoas porque elas são boas; que Ele escolhe os indivíduos por causa de diversas coisas que eles tenham praticado. Porém, em resposta ás ideias de nossos oponentes, indago: Quais obras são essas, em vista das quais Deus teria elegido o Seu povo?

Seriam as obras às quais comumente chamamos de “obras da lei” — obras de obediência, que a criatura humana é capaz de realizar? Nesse caso, replicaremos aos tais: Se os homens não podem ser justificados pelas obras da lei, parece perfeitamente claro que também não podem ter sido eleitos em vista das obras da lei. E se os homens não podem ser justificados por seus feitos corretos, então é que também não podem ser salvos através dos mesmos. E dai segue-se que o decreto da eleição não pode ter sido baixado com base nas boas obras humanas.

Mas eis que alguns outros insistem: “Deus escolheu os Seus eleitos com base na fé prevista que eles haveriam de ter!” Ora, Deus é quem nos outorga a fé, o que significa que Ele não pode ter selecionado os Seus eleitos com base na fé que Ele previu que eles teriam. Suponhamos que havendo vinte pedintes numa rua, eu tome a resolução de dar a um deles uma nota de cem reais. Entretanto, poderia alguém asseverar que eu resolvi doar aqueles cem reais a um deles, que eu o escolhi para receber aquela importância porque eu previ que ele aceitaria os cem reais? Isso seria dizer asneiras. Por semelhante modo, afirmar-se que Deus escolheu a certos indivíduos por haver previsto que eles exerceriam fé, o que é salvação ainda em forma germinal, seria uma declaração tão absurda que não poderíamos conferir-lhe atenção, nem por um instante sequer. A fé é dom de Deus. E cada virtude também procede do Senhor. Por conseguinte, nem uma coisa e nem outra pode ter sido a causa que levou Deus a escolher a determinados indivíduos, porquanto essa escolha é um dom gratuito.

Estamos plenamente convictos de que a eleição é absoluta e inteiramente independente das virtudes que os santos possam exibir posteriormente. Ainda que um certo crente venha a ser tão santo e devoto quanto Paulo; ainda que venha a ser tão ousado na fé quanto Pedro, ou tão cheio de amor quanto João, contudo, ele nada poderia reivindicar da parte de seu Criador. Eu jamais conheci qualquer crente, de qualquer denominação evangélica, que tenha pensado que Deus o salvou por haver previsto que ele possuiria alguma dessas virtudes ou algum de tais méritos.

Ora, meus irmãos, as mais excelentes joias que um santo jamais pode usar neste mundo, se forem joias de sua própria feitura, não serão joias de primeira qualidade. Nessas joias sempre haverá algum elemento terreno, misturado com elas. Semelhantemente, a mais exaltada graça que podemos chegar a possuir, envolve algum elemento terreno. Sentimos isso quando já atingimos o mais elevado refinamento possível, quando já chegamos a um alto grau de santificação; e mesmo então a nossa linguagem obrigatoriamente terá de ser:
“Sou o principal dos pecadores,
Mas Jesus morreu por mim”.


A nossa única esperança, o nosso apelo exclusivo, continua dependendo unicamente da graça de Deus, conforme ela se manifestou na pessoa de Jesus Cristo. E estou certo de que devemos repelir decididamente e desconsiderar qualquer pensamento que conceba que as graças que possuímos, as quais são dons conferidos por nosso Senhor, que foram em nós plantadas pela Sua mão direita, poderiam ter sido a causa do Seu amor por nós. Diante disso, cumpre-nos entoar sempre:
“Que poderia haver em nós para merecer estima, Ou conferir deleite ao Criador?
Assim foi, Pai, e isso nos anima, Do Teu querer ser nosso Galardoador”.


“Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Romanos 9:15). Sim, Deus salva porque quer salvar. E se alguém me perguntasse por qual motivo Ele me salvou, eu poderia retrucar somente que Ele assim fez porque assim quis fazer. Haveria em mim qualquer coisa que me recomendasse diante dos olhos de Deus? Não; sou forçado a desconsiderar toda e qualquer consideração a esse respeito. Nada tenho que possa recomendar-me diante do Senhor. Quando Deus me salvou, eu era o mais abjeto, o mais perdido e arruinado membro da raça humana. Eu jazia diante de Deus como um recém-nascido. Na verdade, faltava-me todo e qualquer poder para ajudar-me a mim mesmo. Oh, quão miserável eu me sentia e sabia ser. Se você tem alguma coisa que o recomende diante de Deus, eu nunca tive coisa nenhuma. Antes, fico contente em haver sido salvo pela graça divina, graça pura e sem qualquer mistura. Não posso jactar-me de quaisquer méritos pessoais. Se você pode jactar-se de alguma coisa, eu não o posso. Antes, só me resta entoar estas palavras:
“Só a livre graça, do principio ao fim,
Me salvou a alma e susterá a mim”


Em terceiro lugar, essa eleição é eterna. “... Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação...” Pode algum dos leitores dizer-me quando foi o princípio? Poderíamos retroceder até aos milênios já passados, quando os mundos foram criados e sistemas foram postos em ordem; mas, em lá chegando, nem tenhamos nos aproximado do princípio. Enquanto não recuarmos até ao tempo em que o universo inteiro dormia na mente de Deus, como algo que ainda não havia nascido, enquanto não penetrarmos na eternidade, onde Deus, o Criador, vivia solitário, quando tudo ainda dormia dentro d’Ele, quando a criação inteira repousava em Seu pensamento todo abrangente e gigantesco, não teremos nem começado a sondar o principio. Podemos ficar retrocedendo, retrocedendo e retrocedendo, eras e mais eras sem fim. Poderíamos ficar retrocedendo, se pudéssemos empregar palavras tão estranhas, durante eternidades inteiras, e ainda assim não teríamos chegado ao principio. Nossas asas cairiam de exaustão, nossa imaginação feneceria. Os nossos pensamentos poderiam ultrapassar o corisco de um relâmpago em majestade, poder e rapidez, mas tudo isso se extinguiria antes, muito antes de chegarmos ao principio.

Não obstante, desde o principio Deus escolheu o Seu povo; quando o espaço celeste nunca dantes navegado não era ainda agitado pelo marulhar das asas de um único anjo, quando o espaço não tinha limites, ou melhor, nem havia sido expandido, quando imperava um silêncio universal, e quando nenhuma voz ou murmúrio chocava a solenidade do silêncio total; quando ainda não existia qualquer ser, ou movimento, ou tempo, e quando coisa nenhuma, exceto o próprio Deus, existia, e Ele estava sozinho na eternidade; quando, sem que qualquer anjo levantasse o seu cântico, sem a ajuda do primeiro dos querubins; muitíssimo antes das criaturas vivas terem vindo à existência, ou de terem sido formadas as rodas da carruagem de Jeová. Sim, quando “no princípio era o Verbo”, quando no principio o povo de Deus era um com o Verbo, foi então que Ele escolheu os Seus eleitos para a vida eterna. Assim sendo, a nossa eleição procede desde a eternidade. No entanto, não me rebaixarei para tentar provar esse ponto. Tão-somente citei por alto esses pensamentos, visando o beneficio dos crentes ainda principiantes, a fim de ajudá-los a compreender melhor o que queremos dar a entender com eleição eterna e absoluta.

Em seguida, cabe-nos refletir que a eleição é algo pessoal. Quanto a esse particular, novamente, os nossos oponentes têm procurado transtornar a doutrina da eleição ao afirmarem que deve estar em pauta a eleição de nações inteiras, e não de indivíduos isolados. Entretanto, o apóstolo havia declarado: "... Deus vos escolheu...“ Trata-se de uma das mais miseráveis e infundadas distorções do mundo, essa que procura mostrar que Deus não escolheu indivíduos, e, sim, nações inteiras. Porque a mesmíssima objeção que pode ser levantada contra a escolha de indivíduos isolados, pode ser lançada contra a escolha de nações. Se houvesse qualquer erro em ter Deus escolhido indivíduos, teria sido muito mais injusto ainda, da parte d’Ele, se Ele tivesse escolhido nações, posto que as nações são apenas um agregado de grandes multidões de indivíduos. E escolher uma nação parece ser um crime mais gigantesco — se é que a eleição é um crime — do que escolher meros indivíduos. Não há que duvidar que escolher dez mil pessoas deve ser reputado como pior do que escolher um único indivíduo, se tal escolha estiver laborando em erro. Distinguir uma Única nação dentre o restante da humanidade parece-me ser uma extravagância muito maior, nos atos da soberania divina, do que escolher alguns poucos mortais, ficando outros negligenciados.

Do que se compõem as nações, senão de indivíduos? Que são povos inteiros, senão combinações de diferentes unidades? Uma nação qualquer compõe-se deste individuo, e daquele, e daquele outro, e mais daquele ainda. E se alguém me disser que Deus escolheu aos judeus, então eu retrucarei que Deus selecionou aquele judeu, e mais aquele, e aquele outro ainda. E se essa mesma pessoa insistir que Deus escolheu a Inglaterra, então direi que Deus escolheu aquele inglês, e mais aquele inglês, e aquele outro também, e mais um outro inglês, isso posto, tudo redunda na mesma coisa, afinal de contas. Por conseguinte, a eleição é uma questão inteiramente pessoal; é necessário que assim seja. Toda e qualquer pessoa que leia este texto bíblico, como também quaisquer outras passagens paralelas, verá que as Escrituras continuamente se referem ao povo de Deus, destacando indivíduo por indivíduo; e elas referem-se a cada um deles como um objeto especial da eleição divina. “Filhos somos pela divina eleição, Por Jesus Cristo, em quem nós cremos; Pela eterna predestinação Graça soberana hoje recebemos.”

Sabemos que a Bíblia ensina uma eleição individual. Um outro pensamento que ainda precisamos ventilar é que a eleição produz bons resultados. “...Deus vos escolheu desde o principio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.” Um número impressionantemente grande de pessoas compreende mal e distorce inteiramente a doutrina da eleição! E quanto a minha alma fica indignada e ferve, ao lembrar-se dos terríveis malefícios resultantes das distorções e do manuseio malicioso dessa gloriosa porção da gloriosa verdade divina! Quantos existem que têm dito para si mesmos: “Eu sou um dos eleitos!” E, têm-se sentado no ócio, ou pior ainda do que isso. Esses tais têm dito: “Eu sou um dos eleitos de Deus!” E então, com ambas as mãos têm praticado a iniquidade. Esses tais têm corrido sofregamente atrás de tudo quanto é perverso, porquanto pensam assim: “Sou um filho escolhido de Deus, sem importar qual seja a minha conduta. E, por conseguinte, vivo como bem quiser e faço o que melhor me parecer”.

Oh, amados! Permitam-me advertir solenemente a cada um de vocês para jamais forçarem tanto a verdade da Bíblia; melhor ainda, para nunca transformarem a verdade em mentira, através de distorção. É possível ultrapassar a verdade, fazendo com que aquilo que tinha o propósito de ser um doce consolo transforme-se numa terrível mistura venenosa, para nossa própria destruição. Afianço a vocês que tem havido milhares e milhares de pessoas que têm se arruinado, por haverem compreendido errônea e distorcidamente a doutrina da eleição. Essas pessoas têm dito: “Deus me escolheu para ir para o céu e para receber a vida eterna!” E, no entanto, elas têm se esquecido de que está escrito que Deus nos escolheu “... pela santificação do Espírito e fé na verdade...” Essa é a autêntica eleição divina — a eleição para a santificação e para a fé. Deus escolhe o Seu povo para que seja crente e santo. Quantos de vocês são crentes verdadeiros? Quantos membros de qualquer congregação podem pôr a mão sobre o peito e dizer “Confio em Deus que estou sendo santificado!” Há alguém aí que afirme: “Eu sou um dos eleitos!” Posso relembrar-lhe que, ainda no decorrer desta semana, você usou de palavras torpes. Um de vocês fala: “Acho que sou um dos escolhidos!”, mas eu posso despertar a sua memória a respeito de alguma ação pecaminosa e má que você cometeu durante a semana passada. Um outro talvez alegue: “Sou um dos eleitos de Deus!”, mas eu mesmo olho para você bem dentro dos olhos, e digo: Eleito! Você é o hipócrita mais maldito que conheço! Outros de vocês talvez digam: “Eu sou eleito!”, não obstante, posso recordá-los de que costumam negligenciar o trono da misericórdia divina, e jamais oram. Oh, amados! Jamais pensem que são eleitos enquanto não forem santos. Você pode aproximar-se de Jesus Cristo como um pecador, mas não pode aproximar-se d’Ele como uma pessoa eleita enquanto sua santidade não for visível. Portanto, não entendam mal o que aqui assevero: Não pense que você pode continuar no pecado e ainda pertencer ao grupo dos eleitos. Isso é algo simplesmente impossível.

Os eleitos de Deus são santos. Não são puros, não são perfeitos, não são imaculados. Porém, levando-se em conta as vidas deles como um todo, eles são pessoas santificadas. São pessoas marcadas, separadas dos seus semelhantes. Nenhum homem tem o direito de concluir que pertence ao número dos eleitos, exceto com base em sua própria santidade. Talvez um individuo qualquer seja mesmo um dos eleitos do Senhor, e, no entanto, esteja vivendo nas trevas. Por isso mesmo, esse individuo não tem o direito de tirar a conclusão de que é um dos eleitos, pois ninguém pode perceber quaisquer evidências de sua eleição. Tal individuo talvez venha a receber a vida eterna, algum dia; mas, por enquanto, está morto. Por outro lado, se vocês estão realmente andando no temor de Deus, procurando agradá-Lo, obedecendo aos Seus mandamentos, então não duvidem de que seus nomes foram registrados no livro da vida do Cordeiro, desde antes da fundação do mundo. E, para que esse ensino não pareça exageradamente elevado para vocês, observem um outro sinal da eleição divina, a saber, a fé. “... e fé na verdade”.

Qualquer pessoa que confia na verdade de Deus, que confia em Jesus Cristo, é uma pessoa eleita. Com frequência chego a conhecer alguma pobre alma, a qual se desgasta e se preocupa diante do seguinte pensamento: “E se eu não for um dos eleitos, afinal?” E continua ainda: “Sei que tenho depositado a minha confiança em Jesus; sei que creio em Seu nome e confio no Seu sangue. Mas, o que adianta se eu não for um dos eleitos, afinal de contas?”

Pobre e querida criatura humana! Sem dúvida você não sabe muita coisa do Evangelho, porque, do contrário, você não pensaria nesses termos, visto que aquele que crê é um dos eleitos.

Aqueles que foram eleitos, também foram escolhidos para a santificação e para a fé; e, assim sendo, se você tem fé, então você é um dos eleitos de Deus. Você pode saber disso, e até deveria ter conhecimento dessa realidade, porquanto se trata de uma certeza absoluta. Se você, na qualidade de pecador que é, vier a contemplar a Jesus Cristo, e disser:
“Coisa alguma em minhas mãos eu trago,
Somente em Tua cruz me agarro,
então você é um dos eleitos.



Trecho Retirado do Sermão de Charles H. Spurgeon – Eleição.
Por Saulo Diniz Ferreira – Brasília DF

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)
quarta-feira, 4 de agosto de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

ELEIÇÃO Pt 1 - ( Charles H. Spurgeon)


“Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (II Tessalonicenses 2:13,14).

Em primeiro lugar falarei um pouco a respeito da veracidade dessa doutrina: “... Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação...“

Em segundo lugar, procurarei provar que a eleição reveste-se de um caráter absoluto: Deus “... vos escolheu desde o principio para a salvação...”, não para a santificação, e, sim, “... pela santificação do Espírito e fé na verdade...”

Em terceiro lugar, a eleição é eterna, porque o texto afirma: “... Deus vos escolheu desde o principio...”

Em quarto lugar, trata-se de uma eleição de caráter pessoal: “... Deus vos escolheu...”

E, em seguida, consideraremos os efeitos dessa doutrina — avaliando aquilo que ela realiza.

E, finalmente, na medida em que formos capacitados por Deus, procuraremos examinar as suas tendências, a fim de averiguarmos se realmente trata-se de uma doutrina terrível e licenciosa, como alguns dizem. Por assim dizer, tomaremos a flor, e, à semelhança de verdadeiras abelhas, verificaremos se nessa doutrina há algum mel, se pode proceder dela algum bem, ou se ela é um mal sem mistura, não diluído.

Em primeiro lugar, procurarei provar que essa doutrina da eleição é verdadeira. E permitam-me começar com um argumento que é segundo os homens: falarei com vocês considerando suas diferentes posições e estágios de desenvolvimento. Aqui, há alguns de vocês pertencentes à Igreja Anglicana. Ora, eu sei perfeita- mente bem que vocês crêem profundamente naquilo que os [trinta e nove] Artigos declaram ser a sã doutrina. Oferecerei um exemplo daquilo que esses Artigos afirmam a respeito da eleição, de tal maneira que, se vocês acreditam realmente neles, não poderão deixar de receber a doutrina da eleição. Lerei certa porção do artigo XVII, que se manifesta sobre a predestinação e a eleição: “A predestinação para a vida é o propósito eterno de Deus mediante o qual (antes que fossem lançados os fundamentos do mundo) Ele decretou de maneira constante, através do Seu conselho secreto a nosso respeito, que livraria da maldição e da condenação àqueles a quem Ele escolhera em Cristo, dentre a humanidade, para conduzi-los à salvação eterna por meio de Cristo, como vasos destinados à honra. Em face disso, aqueles que foram dotados por Deus de tão excelente beneficio são chamados, de conformidade como propósito de Deus, pelo Seu Espírito, o qual atua no tempo apropriado, tendo em mira: que, pela graça, obedeçam a essa vocação; sejam gratuitamente justificados; sejam feitos filhos de Deus por adoção; sejam moldados segundo a imagem de Seu Filho unigênito, Jesus Cristo; andem piedosamente em boas obras; e, afinal, pela misericórdia de Deus, cheguem a bem-aventurança eterna”.

Expus esse artigo de fé diante de vocês, tão-somente para mostrar-lhes que, se vocês pertencem à Igreja Anglicana, pelo menos não quererão fazer objeção à doutrina da predestinação.

Uma outra autoridade humana, por intermédio da qual desejo confirmar a doutrina da eleição, é a antiga declaração de fé dos valdenses³. Se vocês tiverem a oportunidade de ler o credo dos antigos valdenses, que eles redigiram quando estavam sofrendo sob os ardores da perseguição, descobrirão que aqueles famosos seguidores e confessores da fé cristã davam a mais cordial acolhida e abraçavam essa doutrina, como uma porção da verdade revelada por Deus. Extrai de um livro antigo um dos artigos de fé dos valdenses: “Que Deus salva da corrupção e da condenação aqueles a quem escolheu desde antes da fundação do mundo, não por causa de qualquer disposição, fé ou santidade que Ele tenha previsto neles, mas por motivo de Sua pura misericórdia, em Cristo Jesus, Seu Filho, deixando de levar em conta quaisquer outras considerações, segundo a irrepreensível razão de Sua própria livre vontade e justiça”.

Portanto, não estou pregando aqui nenhuma novidade; nenhuma doutrina nova. Gosto imensamente de proclamar essas antigas e vigorosas doutrinas, que são conhecidas pelo cognome de calvinismo, mas que, por certo e verdadeiramente, são a verdade de Deus, a qual nos foi revelada em Jesus Cristo. Por meio dessa verdade da eleição, faço uma peregrinação ao passado, e, enquanto prossigo, contemplo pai após pai da Igreja, confessor após confessor, mártir após mártir levantarem-se e virem apertar minha mão. Se eu fosse um defensor do pelagianismo, ou acreditasse na doutrina do livre-arbítrio humano, então eu teria de prosseguir sozinho por séculos e mais séculos em minha peregrinação ao passado. Aqui e acolá, algum herege, de caráter não muito honrado, talvez se levantasse e me chamasse de irmão. Entretanto, aceitando como aceito essas realidades espirituais como o padrão de minha fé, contemplo a pátria dos antigos crentes povoada por numerosíssimos irmãos; posso contemplar multidões que confessam as mesmas verdades que defendo, multidões que reconhecem que essa é a religião da própria Igreja de Deus.

Também quero apresentar a vocês um extrato da antiga confissão batista. Nesta congregação, somos batistas — ou pelo menos a maioria de nós o é — e gostamos de averiguar o que os nossos predecessores escreveram. Cerca de duzentos anos atrás, os batistas se reuniram e publicaram os seus artigos de fé, a fim de que se pusesse um ponto final em certos rumores que atacavam a ortodoxia deles, rumores esses que já tinham dado volta ao mundo. Abro agora este antigo livro, e encontro o seguinte terceiro artigo: “Por decreto de Deus, tendo em vista a manifestação de Sua glória, alguns homens e anjos foram predestinados ou ordenados de antemão para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, para louvor de Sua gloriosa graça; e, quanto aos demais, foi-lhes permitido continuarem em seus pecados, tendo em vista a sua justa condenação, para o louvor da gloriosa justiça divina. Esses anjos e homens, assim predestinados e ordenados com antecedência, foram particular e imutavelmente designados, e o seu número foi determinado de maneira tão certa e definida que esse total não pode ser nem aumentado e nem diminuído. No caso daqueles membros da humanidade que foram predestinados para a vida, Deus, antes de serem lançados os fundamentos do mundo e de conformidade com o Seu eterno e imutável propósito, bem como de acordo com o secreto conselho e beneplácito de Sua vontade, escolheu em Cristo, para a glória eterna e com base em Sua pura graça gratuita e em Seu amor, sem que houvesse qualquer outra consideração na criatura, como condição ou causa que O tivesse impelido a isso, aqueles a quem assim o quis”.

Não obstante, no que concerne a esses testemunhos humanos autoritativos, não me importo nem um pouquinho sequer com eles. Não me interessa o que esses testemunhos afirmam, em favor ou contra a doutrina da eleição. Tão-somente lancei mão deles como uma espécie de confirmação para a vossa fé, a fim de mostrar a vocês que, embora eu possa ser acusado de ser um herege ou um hipercalvinista, em última análise, o testemunho mesmo da antiguidade está me prestando o seu apoio.

Se um mero punhado de nós postar-se na defesa inarredável da soberania do nosso Deus, ainda que sejamos cercados por muitos inimigos, até por nossos próprios irmãos, os quais deveriam ser nossos amigos e ajudadores, nada disso nos abalará, contanto que possamos contar com o apoio do passado. O nobre exército de mártires, as gloriosas hostes de confessores, esses serão os nossos amigos; e o próprio testemunho da verdade manifestar-se-á em nosso favor. Ora, contando com aliados assim, jamais poderemos dizer que estamos sozinhos; bem pelo contrário, poderemos exclamar: “Eis que o Senhor reservou sete mil homens que não dobraram joelhos diante de Baal” (veja Romanos 11:4). Porém, o fator mais importante de todos é que Deus está conosco.

As grandes verdades sempre se encontram na Bíblia, exclusivamente na Bíblia. Vocês não acreditam em qualquer outro livro além da Bíblia, acreditam? Se eu pudesse provar aquilo que afirmo, com base em todos os livros da cristandade; se eu pudesse voltar no tempo e achar provas na biblioteca de Alexandria, mesmo assim vocês não acreditariam nesta doutrina mais do que antes; mas por certo vocês darão crédito ao que diz a Palavra de Deus.

Selecionei alguns poucos textos para serem lidos a vocês. Quando temo que vocês possam desconfiar de alguma verdade, gosto de apresentar uma série inteira de passagens da Bíblia, a fim de que vocês se sintam por demais impressionados para duvidarem, se porventura realmente não acreditam em tal verdade. Tão-somente permitam-me examinar uma série de trechos bíblicos, onde os crentes são chamados de eleitos. Naturalmente, se as pessoas estão sendo chamadas de eleitas, não se pode duvidar que deve haver uma eleição. Se Jesus Cristo e os Seus apóstolos estavam acostumados a designar os discípulos pelo título de eleitos, então certamente devemos crer que é isso que eles são, porque, de outra maneira, tal vocábulo não significaria coisa nenhuma.

Jesus Cristo declarou: “Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias”. E também: ”... pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos”. E ainda: “E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu” (Marcos 13:20, 22 e 27). “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?” (Lucas 18:7). Juntamente com esses, muitos outros trechos bíblicos poderiam ser selecionados, onde aparecem palavras como “eleitos”, “escolhidos”, “conhecidos de antemão” ou “destinados”, ou então onde aparece alguma expressão como “minhas ovelhas”, ou alguma designação similar, demonstrando que o povo de Cristo é distinguido do resto da humanidade.

Porém, vocês devem possuir suas próprias concordâncias bíblicas, e não precisarei perturbá-los com muitos textos. Em todas as epístolas dos apóstolos, os santos são
continuamente chamados de “os eleitos”. Na epístola aos Colossenses, encontramos Paulo asseverando: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de temos afetos de misericórdia..." (3:12). Quando Paulo escreveu a Tito, designou a si mesmo nestes termos: “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus (Tito 1:1). E, referindo-se aos crentes, o apóstolo Pedro estipula: “...eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1 Pedro 1:2). E então, se vocês examinarem os escritos de João, descobrirão que ele apreciava muitíssimo esse vocábulo. Declara ele: “O presbítero à senhora eleita (II João 1). E também refere-se aos ... filhos da tua irmã eleita... (II João 13). E, por semelhante modo, sabemos onde é que está escrito: “Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda...” (1 Pedro 5:13). Não, durante aqueles primeiros dias, os crentes não se envergonhavam de usar essa palavra; e nem receavam falar a respeito da ideia por ela representada.

No entanto, nestes nossos dias, tenho que admitir, esse vocábulo tem sido revestido de certa diversidade de significações, e muitas pessoas têm mutilado e manchado essa doutrina da eleição, de maneira tal que a têm transformado numa autêntica doutrina de demônios. E muitos daqueles que atualmente se chamam de crentes, bandearam-se para as fileiras dos antinomianos. A despeito de tudo isso, por qual motivo haveríamos de sentir vergonha dessa ideia, ainda que os homens a tenham distorcido? Amemos a verdade de Deus quando ela está sendo atacada, tanto quando ela está sendo aceita. Se por acaso houve algum mártir a quem já amávamos antes dele ser submetido à tortura da roda, deveríamos amá-lo mais ainda depois que ele já foi esticado e torturado ali. Quando a verdade de Deus é submetida às pressões, não devemos taxá-la de falsa. Gostamos devera verdade de Deus quando ela está sendo submetida a alguma provação, porque então podemos discernir qual é a exata proporção que ela teria se não tivesse sido distorcida e torturada pela crueldade e pelas invenções astuciosas dos homens.

Trecho Retirado do Sermão de Charles H. Spurgeon – Eleição.
Por Saulo Diniz Ferreira – Brasília DF

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)
segunda-feira, 19 de julho de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

Ovelhas Que Precisam De Pastor


“E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência” Jeremias 3:15

É de se estranhar porque muitos pastores estão embarcando na onda do humanismo, buscando conhecimento da psicanálise com o intuito de ser um conselheiro capacitado para ajudar suas ovelhas e de maneira geral o povo de Deus, na resolução de seus problemas. Buscar tal conhecimento é olvidar que Jesus Cristo tem recursos inesgotáveis para satisfazer as mais profundas necessidades emocionais e espirituais .do seu povo. Buscar tal conhecimento seria como se esses estivessem proclamando de forma altissonante: A Bíblia é “insuficiente”. Ela não tem resposta para todos os nossos problemas e anseios mais profundos!. “Durante os últimos dez anos têm surgido um grande número de clínicas psicológicas evangélicas. Embora a maioria delas reivindique oferecer aconselhamento bíblico, quase todas ministram, meramente, psicologia secular camuflada com terminologia espiritual. Além disso, elas estão tirando o aconselhamento bíblico do seu lugar próprio, a igreja, condicionando os cristãos (e pastores) a se verem como incompetentes para aconselhar”1. Se olharmos boa parte da literatura que aborda o papel do conselheiro cristão, na íntegra não defende a plena suficiência das Escrituras. Adota o integracionismo, que é a junção da Bíblia com a psicologia. Esse material é usado como livro-texto em diversos seminários e cursos de pós-graduação infiltrando o letal humanismo na igreja de Jesus Cristo.

Para os pastores e conselheiros integracionistas há um inter-relacionamento entre Deus e o humanismo. Veja o que Roger F. Huurding, autor do livro integracionista A ÁRVORE DA CURA. Ed Vida Nova, nos apresenta. “... gostaria de manifestar a minha gratidão a colegas das áreas assistenciais, que estimularam a reflexão e o debate sobre a inter-relação entre teologia e a psicologia”2 .Só que para apoiar esse sofisma o autor não tem credenciais de Deus e sua Palavra, que é a nossa diretriz para todo pensamento e comportamento correto. Em contra partida, fico abençoado com a tenacidade de servos de Deus como Dave Hunt e T.A. Mcmahon, que combatem veementemente essa linha de aconselhamento. Em seu abençoado livro A SEDUÇÃO DO CRISTIANISMO., há uma advertência contra essa onda letal que tem invadido muitas Igrejas. “Variações dessa psicologia se infiltraram na Igreja, nas escolas cristãs e seminários porque pastores e outros líderes aceitaram a alegação de que ela é científica e neutra. A maioria dos crentes não conseguem reconhecer que o cristianismo e a psicoterapia são dois sistemas religiosos rivais e irreconciliáveis. A união dos dois como “psicologia cristã” cria um jugo desigual que introduz na igreja a influência sedutora da psicologia secular”3. Muitos crentes estão sendo orientados a melhorar sua auto-estima, pais a desenvolver a auto-estima de seus filhos, jovens desenvolvendo a filosofia do amor-próprio. “Você só precisa amar e aceitar a si próprio como você é. Você precisa se perdoar, eu mereço. ... Apesar da Bíblia não ensinar o amor-próprio, a auto-estima, o valor-próprio ou a auto-realização como virtudes, recursos ou objetivos, um grande número de cristãos de hoje têm sido enganados pelo ensino do pró-ego da psicologia humanista. Ao invés de resistirem à sedução do mundo, eles submetem a cultura do mundo. ... Na área do ego, dificilmente se pode perceber a diferença entre o cristão e o não-cristão, exceto que o cristão afirma ser Deus a fonte principal de sua auto-estima, auto-aceitação, auto-valorização e valor próprio”4. Todos esses sofismas fazem parte do “kit da felicidade” a qual o mundo oferece juntamente com o que está sendo proposto no aconselhamento cristão e em muitos púlpitos através de mensagens psicologizadas. A Bíblia entra como um “PLACEBO”: se funciona, amém! caso contrário, se aplica as técnicas não bíblicas da psicologia.

Certo dia escutei de um pastor o seguinte conselho para suas ovelhas: “O pastor fulano agora é também psicanalista, se alguém deseja ajuda psicológica o endereço de seu consultório é: rua ...” Será que os conselheiros bíblicos estão em extinção? Será que as ovelhas precisam de verdadeiros servos de Deus, ou de militantes usurpadores do papel do pastor segundo o coração de Deus? Ou estamos desconfiados da eficácia da Palavra de Deus? “Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” Hb 4:12. Continuo crendo na plena suficiência das Escrituras, e que Deus tem respostas para as nossas mais profundas contusões emocionais. “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho o testemunho do Senhor é fiel e da sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos” Salmos 19:7-8.

Seria bom que os conselheiros cristãos parassem e refletissem: Não há harmonia entre Bíblia e psicologia . Louvo a Deus pelo surgimento da ABCB. Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos, que procura capacitar pastores e líderes com a Palavra de Deus. Não com Freud e a Pscanálise, ou Alfred Alder e a Psicologia Individual, ou Viktor E. Frankl e a Logoterapia, ou Carl Rogeres e a Psicoterapia Centrada no Cliente, ou Abraham Maslow e a Psicologia da Auto-atualização, ou B.F. Skinner e o Behavorismo Radical. Homens desprovidos de Deus e sua Palavra.

“Não tenho dúvida quanto ao fato de que a obra de aconselhamento deve ser realizada eminentemente por ministros e outros cristãos cujos dons, treinamento e vocação de modo especial os qualificam e os solicitam a que se dêem a essa obra”5 Conselheiro capaz pg. 249. Gostaria de terminar esse artigo deixando como sugestão alguns livros que podem ajudar o conselheiro bíblico: Coselheiro Capaz, Jay E. Adams, Ed. Fiel. O Manual do Conselheiro Cristão, Jay Adams, Ed. Fiel. Nossa Suficiencia em Cristo, John F. MacArtr, Jr. Ed. Fiel. A Sedução do Cristianismo, Dave Hunt e T.A. McMaahon, Ed. Chamada da Meia Noite. Os Fatos Sobre Auto-Estima e Psicologia, John Ankerberg e John Weldon, Ed. Chamada da Meia Noite.

De Pr. Emidio Viana
Por Saulo Diniz Ferreira - Brasília DF

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)

1 Macarthur Jon F. Nossa Suficiência em Cristo, SP, Fiel, . 1995, Pg, 47
2 Hurding F. Roger. Modelos de Aconselhamento e de Psicoterapia, SP, Ed. Vida Nova, 1988, Pg 17
3 Hunt Dave E. Mcmahon A T. A Sedução do Cristianismo, RS, Chamada da Meia-Noite, Pg 33
4 Martin e Bobgon Deidre. Revista Chamada Da Meia-Noite, Pg. 13, Fevereiro 1999
5 Adams E. Jay. O Manual Do Conselheiro Cristão, SP, Ed. Fiel, Pg. 249, 1994
quinta-feira, 8 de julho de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

Não por Decisão ou Esforço do Homem


"Deus… nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos…" (2 Timóteo 1.9)

Cristo é aquele que salva, mas a Escritura ensina que nem toda pessoa é salva. Qual é a diferença entre aqueles que são salvos e aqueles que permanecem não salvos? Reformularemos a pergunta. A Bíblia ensina que somente aqueles que creem em Jesus Cristo, somente os cristãos, são salvos. Os não cristãos queimarão no inferno para sempre. Por que algumas pessoas se tornam cristãs, enquanto outras não? Qual é a diferença entre os homens, que alguns creem em Cristo, enquanto outros recusam crer nele?

Paulo diz que Deus nos salvou “não em virtude das nossas obras”, mas “por causa da sua própria determinação e graça”, e que essa graça foi dada “desde dos tempos eternos”. As referências a obras, ao propósito divino, à graça divina, e ao tempo, são altamente significativas. Paulo usa essas referências para indicar uma teologia definida sobre a questão, uma forma particular de pensamento. Principalmente, por essas expressões ele atribui tudo da salvação a fatores internos ao próprio Deus sem qualquer consideração de algo no homem. Estou enfatizando isso porque algumas vezes as pessoas pegam uma dessas referências e distorce-as para abrir espaço para teorias sobre a salvação que são alheias ou mesmo contrárias ao pensamento de Paulo. Contudo, quando deixamos de ignorar suas claras explanações, levando em conta o que o apóstolo diz, frequentemente dentro da mesma passagem, veremos que ele não deixa lugar para aberturas ou interpretações alternativas.

Em Romanos 9, ele oferece uma exposição comparativamente extensa sobre a doutrina da soberania de Deus na salvação. Os versículos 11-13 dizem: “Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má — a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama — foi dito a ela: ‘O mais velho servirá ao mais novo’. Como está escrito: ‘Amei Jacó, mas rejeitei Esaú’”. Observe as referências similares a obras, à propósito divino, e a tempo. Graça, e ideias relacionadas como misericórdia, aparecem logo após. Quando diz respeito a obras, Paulo nega que a salvação seja baseada em nossas obras. Aqui ela está combinada com as referências a tempo. Dessa forma, ele escreve que a questão foi determinada antes dos gêmeos nascerem e antes deles terem feito bem ou mal.

Eu mencionei aberturas acima, pois aqui é onde as pessoas tentam injetar suas teorias para evitar o claro ensino da Escritura. Eles dizem que é verdade que o destino dos gêmeos foi determinado antes deles nascerem e antes de terem feito algo, mas talvez essa determinação foi baseada em coisas que eles iriam fazer. Isto é, talvez Deus baseie sua decisão em seu conhecimento do futuro, do que os homens decidiriam e fariam.

Primeiro, mesmo que não haja nada na passagem para contradizer isso, nada é dito em suporte dessa teoria, de forma que ela não é nada mais que especulação sem fundamento. Segundo, a passagem inteira de fato contradiz isso. As obras dos gêmeos são contrastadas com algo que é definido e explícito, a saber, o propósito e chamado de Deus. Ele escreve: “… antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má… a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse”, e “… não por obras, mas por aquele que chama”. O contraste não é entre obras passadas e obras futuras, mas entre obras humanas e propósito divino. Se não pelo fato que os homens são tendentes a pensar na salvação como sendo baseada em suas próprias obras, a simples afirmativa que a salvação é baseada no propósito de Deus seria suficiente para excluir todas adições ou alternativas. Em outras palavras, negar que a salvação é baseada nas obras do homem é apenas uma aplicação da verdade que a salvação é baseada na decisão e graça soberanas de Deus.

Isso é confirmado por declarações explícitas que seguem imediatamente. O versículo 16 diz: “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus”. Aqui ele separa sua referência ao homem do tempo passado, e declara abertamente que a salvação não depende do desejo ou esforço do homem. Não é que a salvação seja independente do desejo ou esforço passado do homem, deixando lugar para a salvação residir no desejo ou esforço futuro do homem, mas sim que ela é independente de qualquer desejo ou esforço no homem. Ela é baseada em alguém ou algo totalmente diferente, a saber, em Deus e na sua misericórdia.

O calvinismo popular ou a teologia reformada não é poupado por essa passagem. Ou para declarar a questão a partir de outra perspectiva, ele também tenta encontrar aberturas na Escritura a fim de afirmar suas próprias teorias e preferências. Essa tradição teológica geralmente afirma a eleição incondicional, em que Deus escolhe salvar alguém não por causa de algo bom nessa pessoa ou algo bom que a pessoa fará, mas frequentemente nega a reprovação incondicional. Contudo, Paulo coloca as duas coisas em pé de igualdade. Ele diz, “… antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má” – não “fizessem qualquer coisa”, ou “fizessem qualquer coisa boa”, mas “fizessem qualquer coisa boa ou má”.

Novamente, as referências a tempo não deixam lugar para obras futuras, mas têm a intenção de negar totalmente o papel das obras, quer boas ou más. Então, tendo negado o papel das obras, quer boas ou más, Deus escolhe amar Jacó e odiar Esaú. Assim como Deus escolhe quem salvar sem consideração de boas obras, quer passadas ou futuras, Deus escolhe quem condenar sem consideração de pecado, ou obras más, quer passadas ou futuras. Estamos dizendo que Deus envia alguns homens para o inferno que são justos ou moralmente neutros? Sem dúvida não – aqueles a quem ele escolheu condenar, ele também faz com que sejam injustos. O infralapsarianismo e a reprovação condicional são uma rejeição direta do ensino apostólico.

E novamente, esse ponto é explicitamente declarado mais tarde. O versículo 18 diz: “Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e endurece a quem ele quer”. O versículo 21 usa uma imagem para estabelecer o mesmo ponto: “O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?”. Ele não usa barro “bom” para fazer vasos nobres e barro “mau” para fazer vasos comuns. Ele usa o mesmo barro para fazer algumas pessoas boas, e algumas pessoas más.

Romanos 9 é uma passagem mais completa, mas Paulo pretende apresentar a mesma doutrina em 2 Timóteo. Quando ele diz que Deus nos salvou “não por causa de algo que nós tenhamos feito” (2Tm 1.9, NIV), ele não deixa lugar para algo que nós faremos. Essa é a forma como ele fala quando pretende excluir todas as obras humanas, quer passadas ou futuras, e não somente isso, pois ele pretende excluir o papel do homem completamente. Essa é simplesmente sua forma de dizer que a salvação não é de forma alguma baseada sobre algo em nós. Ele não nega o papel das obras humanas na salvação apenas para atribuí-la a outra coisa no homem, ou a algo que o homem faça. Antes, ele atribui a salvação à “própria determinação e graça” de Deus. Uma pessoa é salva porque Deus a escolhe, e Deus a escolhe por razões que são internas ao próprio Deus.

De: Vincent Cheung
Fonte: Reflections on Second Timothy
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto, julho/2010
Por: Saulo Diniz Ferreira

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)
segunda-feira, 21 de junho de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

Tradições de homens


Toda estrutura de sociedade tem regras que definem o comportamento aceitável ou inaceitável para seus membros. Uma empresa ou escola pode ter seu código de vestimenta. Competições atléticas são regidas por regras. Todas as entidades governamentais têm seus regulamentos. Famílias bem governadas têm suas regras em casa que são passadas verbalmente de pais para filhos. Acima de tudo, Deus tem regras para o Seu povo, que nos são dadas na Bíblia. No Salmo 119 estas regras são chamadas de vários nomes, como “leis” , “estatutos”, “preceitos” e “mandamentos”.

Se regras são tão comum e abrangem todas as estruturas da sociedade, porque então a questão da lei é tão carregada de emoções e motivo de divisão entre os cristãos? Porque ficamos tão nervosos com regras domésticas para a família de Deus?Uma razão é que adicionamos nossas regras às de Deus. Como os fariseus no tempo de Jesus, tentamos ajudar a Deus acrescentando “podes” e “não podes” humanos aos seus mandamentos.

E ainda, Jesus repreendeu severamente os fariseus por ensinar como doutrinas ( isto é, como uma lei autoritária de Deus ) os mandamentos dos homens ( Marcos 7:5-8 ). Sua reprovação continua válida para nós, porque nós, também, somos muitas vezes tentados a elevar nossas regras humanas ao nível das Escrituras. Quando fazemos isto, nos tornamos culpados de consciências comprometedoras onde Deus não tem falado. Podemos chamar isto de legalismo prático.

De onde vêm estas regras humanas? Muitas começam com que alguém chamou de “cercas”. Uma cerca é uma restrição bem intencionada para nos ajudar a evitar o pecado verdadeiro. Numa noite, sozinho num quarto de hotel, eu passei pelos canais da televisão procurando um entretenimento inocente. Obviamente isto não era nenhum pecado. Porém, eu parei num filme que provou ser sexualmente estimulante. Este programa estimulou minha natureza pecaminosa. Como resultado deste incidente, eu construí uma “cerca” pessoal. Eu fiz um compromisso comigo mesmo de não ligar a TV quando estivesse só, a não ser que tinha um programa específico para assistir.

Eu suspeito que a maioria dos cristãos tenha construído suas próprias cercas em várias áreas de sua vida. Cercas pessoais não são más em si mesmas. Elas podem nos ajudar a evitar o pecado genuíno. Mas elas podem nos levar para um legalismo quando as elevamos para o nível da Lei de Deus – isto é, quando tentamos aplicar nossas próprias restrições pessoais a todos os outros. Eu creio, por exemplo, que a Bíblia ensina mais a temperança do que a abstinência em relação às bebidas alcoólicas. No entanto, por causa do abuso de álcool difundido em nossa sociedade, muitos de nós já decidiram praticar a abstinência. Esta é uma cerca que construímos, e ela é perfeitamente legítima, contanto a aplicarmos somente a nós mesmos. Mas quando julgamos outros cristãos que praticam a temperança em vez da abstinência, temos elevado nossa própria convicção ao nível da lei de Deus. Estamos então praticando legalismo.

O apóstolo Paulo teve que lidar com outra questão de prática de legalismo em seus dias, o que ele chamou de “discussões de opiniões” ( Rm 14:1 ). Havia aparentemente duas questões - o consumo de carne e a observância de certos dias especiais ( Rm 14:2, 5 ). A resposta de Paulo foi dupla. Em primeiro lugar, devemos compreender que Deus nos deu liberdade para termos opiniões diferentes sobre questões não abordadas nas Escrituras. Em segundo lugar, não devemos julgar ou desprezar aqueles cujas opiniões divergem.

Evitar julgar outros cujas práticas são diferentes das nossas é a coisa mais difícil que temos que fazer. Achamos difícil acreditar que uma prática que consideramos como pecado para nós mesmos não é pecado para os demais. E Paulo ainda escreve: “Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente” ( Rm 14.5 ).

E comum hoje em dia as pessoas usarem roupas casuais para irem à igreja. Mas eu cresci num tempo em que as pessoas vestiam suas melhores “roupas dominicais” para irem adorar. Como resultado, por um longo tempo eu mantive uma atitude de julgamento para com aqueles que iam a igreja com roupas casuais. Eu considerava isto uma falta de reverencia para com Deus. Finalmente, porem, eu tive que concluir, que esta questão não e abordada nas Escrituras e devo permitir aos outros a liberdade que Deus lhes dá. Caso contrário, deslizo para o legalismo.

Algumas diferenças de opiniões, como as sobre a roupa, tendem a ser geracional. Outras são geográficas. Fui criado em uma igreja na qual os garotos e garotas adolescentes não eram autorizados a nadarem juntos. Por outro lado, era perfeitamente aceitável as mulheres usarem maquiagem. Mais tarde, como jovem adulto, eu freqüentei uma igreja na costa oeste que era tão conservadora quanto aquele na qual cresci. Aqui, os jovens iam regularmente à praia juntos como parte das suas atividades. Mas mulheres que usavam maquiagem eram consideradas “mundanas”. Tenho certeza que, em algum lugar do passado, quando os lideres dessas duas igrejas impuseram estas restrições, eles achavam que tinham boas razões para fazê-lo. Mas, de fato, eles fizeram suas regras equivalerem os mandamentos de Deus.

Suponho, que os líderes da igreja que decidiram que era pecado garotos e garotas adolescentes nadarem juntos, estavam preocupados com o perigo dos olhares lascivos. Este é realmente um pecado contra o qual Jesus especificamente advertiu em Mateus 5:27 – 28. No entanto, a regra sobre nadar juntos não abordou a prática bem mais perigosa de adolescentes sentarem sozinhos num carro estacionado, se beijando e acariciando um ao outro.

Isto aponta para outro problema de regras feitas por homens. Além de ligar nossas consciências em áreas das quais Deus não falou, elas muitas vezes não abordam a questão real. Regras simplesmente não podem abranger todas as situações. Jovens podem encontrar uma dúzia de outros lugares além da piscina para saciar seus olhares lascivos, para não mencionar o problema do carro estacionado. Então, em vez de criar uma regra sobre nadar com o sexo oposto, nós precisamos ajudar os jovens a desenvolver convicções bíblicas sobre a pureza sexual. Podemos mostrar-lhes passagem das Escrituras como 2 Timóteo 2:22 “Foge, outrossim, das paixões da mocidade” e ajudá-los a identificar situações das quais eles devem fugir. Quando fazemos isto, estamos ajudando-os a identificar e a se abster de qualquer situação na qual seus desejos sexuais possam ser estimulados. A solução para toda prática de legalismo de regras feitas por homens é desenvolver e ensinar convicções baseadas na Bíblia. Se a Bíblia não proíbe uma prática, nós também não devemos fazê-lo.

Mas ao mesmo tempo, devemos focar naquilo que a Bíblia ensina. Por exemplo, a Bíblia enfatiza a importância do domínio próprio. Ela nos ensina que comamos ou bebamos, devemos fazer tudo para a glória de Deus ( 1 Coríntios 10:31 ). A pessoa que bebe sua taça de vinho deve fazê-lo para a glória de Deus, e o homem que come seu bife deve fazê-lo para a glória de Deus.

Então, se estamos assistindo a um programa de televisão, nadando com o sexo oposto ou usando maquiagem, podemos sempre aplicar esta regra bíblica: posso fazer isto para a glória de Deus? E depois devemos aceitar o fato de que, de acordo com Paulo em Romanos 14, a resposta a esta pergunta talvez seja diferente para pessoas diferentes. Este é o caminho para evitarmos a prática do legalismo de regras feitas por homens.

De Jerry Bridges
Por Saulo Diniz Ferreira - Brasília DF

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que não o altere de nenhuma maneira e não use para fins comerciais. Para postagens na web, um link para este documento para a fonte original do material é o preferido. (Basta copiar os itens acima)