quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 | By: Saulo Diniz Ferreira

O poder do Deus que regenera o ser


“Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus. Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.”
[Lucas 10: 17-21]

Creio no poder de Deus. No sobrenatural, no indizível e inexplicável. Creio em cada sinal supranatural da presença espiritual do Deus Vivo em meio à humanidade caída e incrédula no curso da História, conforme os relatos das Escrituras, a Bíblia Sagrada. Creio no Deus Emanuel: Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne, habitou e andou entre nós percorrendo cidades e povoados, fazendo o bem por toda parte, pregando o Evangelho do Reino, curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo, expelindo demônios e perdoando pecados. Creio em toda a autoridade que, pelo próprio Cristo, é concedida à todo aquele que em Seu nome crê, e à Ele se submete e se entrega completamente; autoridade concedida à Igreja, o corpo de Cristo na Terra, até que Ele venha. Creio no poder da fé no Filho de Deus, o qual, em suas próprias palavras descreve-a, como sendo capaz de transportar montanhas pela autoridade da palavra.

Enfim, creio que Deus não se explica, e que sem fé, é impossível conhecê-lo e muito menos agradá-lo. O que não creio é no hodierno uso irreverente (leia-se: desprovido de reverência) que por vezes nos pegamos fazendo de tal revelação, tampouco na veracidade das evidências “tangíveis” e supostamente reais que dele decorram.

Ao olhar em meu redor, percebo o quanto o senso comum e popular é constantemente colorido por idéias equivocadas da presença de Deus e Seu poder, o que por fim, acaba por enriquecer e despertar a imaginação fantasiosa de pessoas tantas vezes simples, humildes, despretensiosas, e que tantas vezes está apenas à procura de descanso para suas almas afadigadas, machucadas pela vida. É perfeitamente natural que, vivendo neste contexto social e histórico, encontremos no Deus-todo-poderoso anunciado dos púlpitos a solução para nossos problemas cotidianos e até mesmo a facilitação de nossas vidas. Nem sequer vejo problemas nisso, muito pelo contrário: No despertar simples e sincero de pessoas simples, de fé e esperanças no Deus de Abraão, de Isaque e Jacó; por meio de Jesus Cristo, ali o Espírito de Deus habita.

A meu ver, o perigo mora é na propaganda enganosa da fé, na distorção religiosa, no anúncio fantasioso; e neste aspecto, a linha que divide a ingenuidade-inocência da malícia existentes no coração é extremamente tênue. Aí sim mora o perigo. Sempre foi assim. Até mesmo nos dias de Jesus, onde Ele mesmo combateu tais ameaças à fé dos pequeninos oprimida pela tradição judaica, pela religiosidade exarcebada que ditava as regras do culto à Deus.

Conforme o relato da passagem epigrafada, após verdadeiras e poderosas manifestações do sobrenatural de Deus pelas mãos dos discípulos, a reação de Jesus me encanta e me chama mais atenção do que a própria felicidade dos discípulos diante de tais maravilhas. Para Jesus, o poder de Deus se revela com implicações muito mais nobres e eternas do que o mero desempenho espiritual “pirotécnico” realizado por intermédio de seus discípulos, ou até mesmo a provisória derrota de potestades malignas. Por isso dizia: “alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus".

Creio ser esta a espiritualidade que deveríamos fomentar sempre em nossos corações diante de Deus e Seu poder, e não os aspectos performáticos que inflam o ego humano, o ibope e aumentam a popularidade e o aspecto piedoso de nossa fé. Cristo nos chama à aquela postura, e não à esta; nos ensinado a ajustar o foco de nossa fé.

De fato, tenho dificuldades em crer no que seria “poder de Deus” se manifestando de maneiras tantas vezes torpes, fúteis, infantis e sem propósitos verdadeiramente espirituais como sempre se viu e como hoje se vê entre nós, especialmente em programas de TV evangélicos e congregações neopentecostais ou católicas. Não que Deus não se revele, ou não possa se revelar ali de forma genuína, verdadeira e poderosa, não que Ele não o faça! Deus se revela por sua graça, não por nossos méritos, mas apesar de nós. O vento sopra onde quer! Todavia, é preciso reconheçer que, juntamente com a verdade, temos também semeado o engano, fazendo do povo de Deus, especialmente os mais simples, vítimas potenciais de engano religioso.

Logo, em nossas mentes, nossa fé faz de nós homens e mulheres de Deus, poderosos em unção e autoridade, capacitados por dons e sensibilidades espirituais das mais diversas, cheios do "poder" de Deus, detentores dos aparatos sagrados de culto, aptos a decretar a falência das hostes espirituais da maldade, curando, expulsando demônios e realizando toda sorte de milagres; contudo, esta mesma "fé" pode facilmente nos transformar em pessoas verdadeiramente intragáveis, presas em um círculo vicioso altamente corporativo insensível para com o próximo e para com as realidades do mundo em nossa volta, intolerantes para com os de fora, arrogantes, presunçosos, soberbos, e acima de tudo, interesseiros. Interesseiros quando deixamos de buscar e amar a Deus, por Deus, quando o que realmente nos motiva é a falsa impressão de poder, segurança e superioridade espiritual que tal mentalidade gera em nós.

“Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.” [1 Pedro 1: 6-9]

Eis o verdadeiro propósito, o fim, o alvo, a finalidade de nossa fé em Jesus Cristo: A salvação de nossas almas. Contudo, se apesar do discurso contrário, na prática transgredimos ou negamos tal verdade, certamente nossa salvação é o que estará em jogo. Como já disse anteriormente, para Jesus, o poder de Deus se revela com implicações muito mais nobres e eternas do que a mera facilitação de nossas vidas neste mundo caído.

Levantemos juntos o clamor pelo poder de Deus que gera arrependimento, que cura a alma, que transforma o caráter torto e enche a vida de amor, humildade e afeição! Porque o Espírito de Deus é Santo, e santidade não se mostra na religiosidade que se porta como detentora da verdade e se julga superior à aqueles que são diferentes de nós. Será que Deus está mais interessado em performances e “pirotecnias espirituais” do que na transformação da vida de um filho arrogante, soberbo, grosseiro e insensível? Será que Deus está mais engajado na realização de curas físicas, milagres e dentes de ouro no meio do povo do que na transformação do ódio em amor, da soberba em humildade, da intolerância na mansidão, da santarriçe em santidade, da hipocrisia em sinceridade, da justiça-própria em arrependimento, da mentira em verdade, da tristeza em alegria, da indiferença em compaixão, dos frutos da carne em frutos do Espírito, nos termos de Gálatas 5?

Quais frutos Deus espera encontrar e saborear em nós, os internos que só Ele pode ter acesso, ou os externos que colocamos em nossos outdoors da fé como currículo e certificado de piedade? Ofereçemos figos ou folhas?

Creio ser necessário muito mais poder de Deus para regenerar a vida de um ser humano à caminho do inferno e afundado na lama de pecados, do que para expelir uma legião de demônios ou mesmo realizar uma cruzada de milagres no Maracanã! Creio ser necessário muito mais poder do Espírito Santo para converter à Cristo corações soberbos e cheios de maldade do que fazer um machado flutuar sobre as águas! Creio que há mais poder de Deus num pedido de perdão sincero do que em um dente transformado em ouro na boca de um crente! Creio que há mais júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por 99 que julgam não necessitar de arrependimento, para quem o escândalo do pecado paira somente sobre os de fora! Creio que há muito mais poder de Deus no sangue derramado e na vergonha da Cruz de Cristo, do que na unção e na glória Arca da Aliança! Sou eu herege por isso? O que eu digo não é nenhuma novidade, não digo nada além daquilo que muitos já disseram antes de mim. É preciso o CONSTANTE ajuste de foco de nossa fé em Cristo, também constantemente bombardeada pelo engano de nossos próprios corações.


“Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor!” entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” [Mateus 7: 21-23]


Diante disso, leia e releia o Sermão do Monte, porque é ali onde Jesus diz qual é a vontade do Pai e o que é de fato relevante para Ele, onde a vontade do Pai nada tem a ver com a mera realização ou promoção de milagres e demonstração de poder no meio do povo, MAS COM O SE DEIXAR MOLDAR POR DEUS, A PONTO DE FAZERMOS MORRER O PODER DA INIQUIDADE QUE HABITA EM NÓS! Aos mesmos que "frutificaram" segundo à religião, Cristo dirá que NUNCA frutificaram segundo o que, para o Pai, realmente tem algum valor.

Não quero negar esta consciência do Evangelho dentro de mim, nem mesmo sendo queimado na fogueira como herege! Fogueira moral-espiritual que queima dentro do coração de muitos irmãos que se negam a discernir entre o Reino de Deus e um reino de homens que, sem perceber, faz de Deus um mero “empregadinho” sujeito às suas vaidades. Porque igreja nenhuma tem o poder de realizar em mim algo que só Deus, por sua exclusiva soberania, tem poder para realizar: fazer de mim uma nova criatura em Cristo Jesus. Logo, todo o resto se torna secundário diante do mais sublime milagre de todos: a salvação da minha alma.


É desse poder que estou em busca: O poder do Deus que regenera o ser.
Paz, fé e reflexão!


R. A. Teles - Cristianismo Consciente
07/01/2010.

Por Saulo Diniz Ferreira

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